Elson,
quando criança, andando pelas roças, deparei com uma capacidade inventiva extraordinária que era revelada por utilidades práticas de eficácia comprovada, por vezes séculos a fio, e ainda plenamente utilizáveis.
Uma delas é o monjolo, um socador de grãos movido a energia hidráulica que utiliza um princípio de alavanca que é movimentada por uma caixa que enche na posição alta e se esvasia na posição baixa. O monjolo era produzido por analfabetos.
Fusos helicoidais de pás, com passo variável (marombas) para homogeneização e extrusão de barro para fabricação de cerâmicas era produzidos por indivíduos que nunca calçaram sapatos.
A selas para animais de montaria eram confeccionadas na forma de "parabolóides hiperbólicos", superfície complexa que tem o apelido de "sela de cavalo". (ref. de Malba Tahn in Maravilhas da Matemática)
Isto sem falar nos construtores de carros de bois que "afinavam" o cocão (mancal aberto) no eixo para individualizar o "cantar" do carro e permitir sua identificação à distância.
A "psicologia" para formar parelhas ou juntas para os carros de bois era um exemplo de percepção e intuição.
Quem capava porcas e frangos era um matuto que usava um canivete, jogava açúcar dentro da cavidade abdominal, selava o corte com óleo de mamona e dava "garantia de vida".
Feijão era conservado na terra de formigueiro de saúvas (predadora do gorgulho) por causa do "cheiro" (ácido fórmico) que espantava as pragas.
O café torrado recebia uma colher de sopa de açúcar no momento de dar o ponto para formar uma camada impermeabilizante que conservava o sabor.
As roças à beira dos cursos d'água eram plantadas do nível do nínho de passarinho mais próximo da água, morro acima, pois o pássaro sempre faz o ninho acima da cota máxima de enchente daquele período de chuvas.
A natureza era percebida, lida, aprendida e aplicada, e a vida corria com tranquilidade e auxílio de alimentos naturais, algumas ervas, benzedeiras, parteiras etc.
Se morriam mais ou morriam menos por falta de "ciência", na proporção não há diferença para hoje porque as pessoas ainda continuam morrendo daquilo que a ciência ainda não domina.
A tecnologia dos telefones celulares me alcançou antes que desenvolvesse a telepatia para me comunicar à distância e a qualquer momento com meus entes queridos, e isto foi bom porque universalizou a acessibilidade "telepática".
A velha "manga comum" que engordava as crianças mais pobres no período da safra, e era chamada de toddy dos pobres, continua ai, mas os pobres não tem acesso porque não mais vivem em áreas frutificadas. E segundo fontes governamentais (mensagem anterior) logo receberão a farinha de minhoca.
Tudo isto porque é preciso montar uma cadeia de significado econômico onde pode existir um consumo direto, como no caso dos motores diesel que podem queimar óleo vegetal natural porque foram criados por Rudolf Diesel para fazer isto. Ma se eu produzir óleo de girassol (extração por pressão) na minha propriedade eu contribuo só para o meio-ambiente e não para alguma cadeia econômica.
A proposta da frutificação pública não contempla uma cadeia econômica, isto é, não contempla até surgirem as consultorias especializadas e as prefeituras criarem os cargos de "conservadores de frutíferas", aos moldes dos varredores de rua.
Encontrei-me hoje com o Prof. Dr. Altair Sales, do Instituto do Trópico Sub-úmido (Goiânia-GO), que me prestará uma consulta sobre a possibilidade de introdução das frutíferas do cerrado no espaço urbano.
Dentre as frutíferas do cerrado penso no pequizeiro, cujo fruto já é da culinária goiana, com grande aceitação, e de alto valor protéico e uso diversificado (sabão, cosméticos, óleo, conserva etc.). Existem outras frutas sem risco de consumo (existem espécies de acentuada propriedade laxativa) e de baixo porte. Todas já em fase de produção de mudas no ITS.
Ah! lembrei-me das Leis de KEPLER (1571-1630), que são do tempo em que os telescópios, comparados aos de hoje, seriam brinquedos de criança.
Saudações sócio-ambientais
Serrano Neves
serrano@serrano.neves.nom.br
FORMAÇÃO DO COMITÊ DA BACIA DO ALTO TOCANTINS.
INSTITUTO SERRANO NEVES
Amigo do Lago da Serra da Mesa
http://www.serrano.neves.nom.br
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