segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Era uma vez...

Quando o Prof. Nion Albernaz foi prefeito em Goiânia a reforma e extensão da Av. Anhanguera - eixo leste-oeste da cidade - foi terminada com o plantio de mudas de palmeiras Guarariroba - aqui referidas como "guerobas" e de origem nativa - cujo palmito amargoso é prato da culinária regional.

As pessoas arrancavam as mudas.

Um vereador foi à TV protestar contra o vandalismo e exigir policiamento para preservação do bem público.

O Professor Nion deu a seguinte resposta na TV: as pessoas estão arrancando as mudas para comer o palmito e logo descobrirão que com um metro de altura não há palmito aproveitável e a prática acabará. É um processo de aprendizado e o replantio foi previsto. Não precisa de polícia.

Em pouco tempo o arrancamento cessou.

As palmeiras estão lá, grandes e bonitas.

Foi inspirado no PROFESSOR que plantei 14 mudas de oiti na calçada da casa onde moro e quase não venci as crianças que, vindo da escola, passavam e quebravam os galhos.

Hoje as árvores já estão chegando aos dois metros de altura.

Não foi tranquilo - somos todos "humanos" - refletir que numa cidade fronteira, criada a partir de um dissenso político, por um não-goiano que pagava as pessoas para ocuparem os lotes, e que cresceu aglomerando aventureiros em busca de ouro e oportunidades, as crianças se comportassem melhor sem que seus pais e avós tivessem tlido tempo de desenvolver uma cultura de usufruto de coisas agradáveis e tivessem podido colocar nas escolas educadores ao invés de simples repetidores do conteúdo do ensino fundamental.

Ajudou-me nas reflexões ter aprendido no Direito Penal - o direito que todos recomendaram ser usado contra as crianças na forma de algum castigo - que não se pode exigir das pessoas o que elas não possuem.

Tivéssemos, por este Brasil imenso, principalmente nos grandes aglomerados urbanos, ensinado as crianças a função coletiva - e individual - das árvores urbanas e talvez o próprio Direito Ambiental tivesse seu caminho balizado mais pela construção do que pela punição.

A educação baseada em VALORES HUMANOS PARA O CONVÍVIO perdeu-se com o tempo e, agora, desenvolvido o Direito Penal Ambiental na tentativa de salvar o que resta, a Educação Ambiental está à beira do campo esperando sua vez de jogar.

Jogar o quê - caras-pálidas, se estamos diante de novas conexões: água-torneira, frango-supermercado, leite-caixinha.

Como educar para as relações originais: água-fonte, frango-quintal, leite-vaca.

Para muitos a natureza já éapenas um relato de terras distantes, cada vez mais distantes, até o dia em que virará lenda do "era uma vez".

"Era uma vez um homem chamado Serrano que morava em Uruaçu-Goiás e tinha galinhas no quintal. Serrano era sócio-ambientalista e acreditava na inteligência humana. Pelos desertos ainda não formados Serrano pregava que os valores humanos para o convívio poderiam fazer com que a vida se tornasse mais agradável para tods e evitasse a formação dos desertos. Serrano foi um visionário: não queria apenas a sombra das árvores, queria também pássaros cantando nelas. Segundo a lenda, quando o vento sopra do norte, por entre as quinas do concreto armado, ouvidos atentos escutam a voz de Serrano murmurando: vaaaaalores huuuuumanos paaaara o cooonvívio."

Saudações sócio-ambientais
Serrano Neves
serrano@serrano.neves.nom.br

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